quarta-feira, 15 de maio de 2013

A Essência do Amor (2013)

Olga Kurylenko, o sol das mais recentes paisagens emocionais de Terrence Malick
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T.O.: To The WonderReal.: Terrence Malick. Int.: Ben Affleck, Olga Kurylenko e Javier Bardem. Origem: EUA, 2012.

Sinopse: Neil e Marina conheceram-se em Paris, onde viveram uma grande história de amor. Dois anos depois, nos EUA, a paixão esmoreceu e a relação parece ter perdido o sentido. Marina procura encontrar apoio em Quintana - um padre católico perdido na sua relação com Deus - e acaba por decidir partir na companhia da sua filha de 10 anos. Neil procura conforto em Jane, uma paixão de juventude com um triste passado. Porém, apesar da relação evoluir, ele sente-se dividido entre este novo amor e o que perdeu.

Pensar que Malick perdeu o fôlego é como que viver uma súbita sensação de falta de ar ou tristeza. Como pode um realizador tão determinante e singular, que já nos ofereceu, na sua (curta) carreira, um leque de obras-primas supremas, ter um lapso a sério? Bem sabemos que é apenas humano, mas levantou dúvidas por tantas vezes nos elevar ao céu e nos deixar a pairar por lá com o seu cinema. Mas não restam incertezas: dois anos volvidos do magistral A Árvore da Vida, Malick espalha-se no seu mais recente filme, A Essência do Amor. Nele, o realizador capta os seus belíssimos planos em grande angular, de uma composição riquíssima, mas cansa - como nunca antes - o espectador, perdendo a noção do seu uso, do seu tempo certo e da leitura que cada um revela. Há muito novelo, mas nenhuma agulha para coser. A história do argumento por si escrito não vive nem em harmonia, equilíbrio ou ritmo, com as imagens montadas sobre a voz on/off. Ou seja, enfrentamos o impensável: Malick a perder controlo sobre a sua mestria - a sábia, poética e divina composição de palavras, imagem e som. Ben Affleck é um monumento de inexpressividade, o mais pobre e frio personagem que Malick já filmou, sem química com Olga Kurylenko (em oposição, o melhor do filme, está radiante), perdida entre a estética repetitiva dos constantes planos do realizador, que se sucedem em massa sem qualquer força de raccord ou tema. McAdams entra cinco minutos, brilha mas pouco e, nisto, some-se de vez. Bardem arrasta-se à procura de algo, se não fosse padre não saberíamos dizer do quê. E Malick ainda se perde com línguas, entre o francês de Kurylenko, o inglês de Affleck e o espanhol de Bardem, sem esquecer uma pitada de italiano de uma mulher oriunda de nenhures que se junta a Kurylenko, a certa altura. Sobram vultos, ideias de personagens, olhos cansados e (muitas) emoções por viver - pelos protagonistas da história e, consequentemente, por nós, espectadores.

Em suma, Malick perdeu-se de amores pelo seu umbigo: completou um projecto que é (demasiado) livre nas suas formas e por isso pobre no seu significado final. A sensação é a de que esta poderia ser uma primeira longa de um qualquer estudante de cinema, apaixonado pelo universo do realizador: aí estaríamos perante um esforço de valor. E é por isso que não consigo deixar de sentir algum carinho pelo resultado final, ao querer acreditar que Malick simplesmente fez "este" só para si. É que para nós é mais que certo que ficou, na sala de montagem, um grande filme por fazer.